segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre o Ser e o Tempo

Não é nada fácil negar e reelaborar conceitos e significados que nos são dados desde a idade mais tenra. Pensar ou compreender o Ser e o Tempo como fez Heidegger, sem dúvida não é uma tarefa fácil. A dificuldade, porém, não se situa apenas na compreensão em si, mas na angústia provocada por ela. Angústia esta, que muitas vezes fazemos questão de tentar esquecer, angústia de liberdade diante de uma temporalidade que vai além de um tempo cronológico, mas que nos faz refletir sobre a nossa caminhada de volta ao nada. Heidegger me chamou atenção para uma conceituação e visão do tempo que eu jamais vislumbrara até então: o tempo é ao mesmo tempo fonte de expansão vital e de angústia, assim, somos a coexistência da criação e sentido e da destruição e vazio. É o tempo que nos remete à morte e, consequentemente às possibilidades. É justamente a angústia que nos é colocada pela dimensão do desconhecido, e das diversas possibilidades, que na verdade nos impulsiona para a vida, ao passo que sabemos do nosso indubitável caminhar para a morte.
            “Analisar o tempo é chegar à estrutura concreta da subjetividade”. Desvendar a complexidade de uma frase como essa me causou a sensação de uma enorme descoberta. Apesar de sempre ter me interessado por temas existenciais, jamais havia pensado a subjetividade humana dessa maneira. “O tempo não é um dado da consciência, mas esta o constitui”, a consciência vai constituindo o tempo na medida em que caminha livremente de um passado, ou de um futuro para o presente. O vício de nosso pensamento cartesiano, sempre nos levara a acreditar que o tempo esta aí, mas na verdade o homem é um ser aí, não é o tempo que nos determina, ele é na verdade parte de nós, e existe apenas porque o conhecemos. Além disso, emerge com uma significação diferente para cada sujeito, despertando muitas vezes em um único ser, sentimentos em relação a ele por vezes diversos. Imagino então, quantas formas infinitas existem para se sentir o tempo, visto que ele é parte da subjetividade humana, que é singular.
Mas para falar de tempo em uma reflexão como esta, é preciso ir além, é preciso compreender o conceito de temporalidade, que integra não simplesmente futuro, passado e presente, mas que engloba em si os chamados êxtases: antecipação, sentimento de abandono, e resolução:  unidade em que o tempo se temporaliza. A unidade em que o tempo se temporaliza? Difícil pensar isso: o tempo se temporaliza. Porém, é pelo cuidado desses horizontes temporais que damos conta da existência como uma totalidade. Bem, assim compreendi: O tempo é um desenvolvimento que se faz na relação desses três êxtases (antecipação, sentimento de abando e resolução) e são nessas unidades que entendemos como futuro, passado e presente, que o tempo se temporaliza. O existencialismo explica que o tempo vulgarmente concebido ignora a interpenetração desses três momentos (passado, presente e futuro), concebendo-os como uma sucessão de “agoras”. O tempo não é algo congelado, me parece um fluxo de ir e vir e presentificar-se. É parte do ser, assim como o ser se submete à irreversibilidade do tempo, na melhor das hipóteses imagino eu. Só existe tempo, na medida em que percebemos os objetos ao nosso redor, assim presentificamos o nosso ser-aí.
"Vim do nada, para o nada caminho, mas nesse caminho sou um eterno vir-a-ser".
Flávia Braga.

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